O HOMEM NU (1967)
Quinta feira, 14 de março de 1968
por Orlando L. Fassoni
Acredito que “A Hora e a vez de Augusto Matraga” tenha sido, até agora, a melhor obra de Roberto Santos, este cineasta lúcido capaz de levar adiante, com simplicidade e profunda dedicação, toda produção em que possa, de uma ou outra forma, analisar seus personagens e situá-los no centro de todos os acontecimentos. O que sobra em análise a Roberto Santos falta a outros bons cineastas brasileiros que não conseguem abordar determinadas situações, a ponto de não chegar a conclusões que possam oferecer melhor compreensão da obra cinematográfica.
Em questão de comunicação, Roberto Santos vai longe: já está muito diante de quase todos os nossos melhores diretores de cinema. E pela razão muito simples de não se preocupar com estilos, nem com efeitos cinematográficos ou simbolismos: seu modo de contar historia é fácil, e não é preciso ser gênio para saber o que acontece e qual a mensagem que o cineasta procura enviar.
Assim é esse novo filme de Roberto Santos. “O Homen Nu”. Sem pompa isento de exercícios de forma e de sofisticação, agrada pela simplicidade com que o diretor aborda o problema do professor Silvio Proença (Paulo José), de repente transformado em marginal e caçado por uma cidade inteira.
Eu disse que matraga é a melhor obra de Roberto Santos, e essa opinião tem sua razão de ser. Sendo um filme mais difícil, exigiu muito mais consciência cinematográfica do seu realizador e outra visão dos acontecimentos. Também uma adaptação mais estudada para que não houvesse defeitos que pudessem deturpar a obra de Guimarães Rosa. Passado algum tempo, Roberto Santos voltou com O Homem Nu, dando a entender que hoje, no cinema brasileiro, novo ou velho, é um dos cineastas mais lúcidos. Adaptando um conto de Fernando Sabino, ele realizou um filme sóbrio, discreto, sem chavões, até certo ponto despretensioso. Mas altamente significativo e válido dentro do panorama atual do nosso cinema. Por isso, merece todas as honras e muita atenção, porque não vai parar ai. Conhecendo-o bem, acredito que a melhor obra de Roberto Santos ainda não foi feita a primeira experiência com o Grande Momento.