A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA (1965)
por Celso Marconi

Não se pode negar que Roberto Santos enfocou o problema de Augusto Matraga – e neste está realmente intuído todo o mais radical homem brasileiro – de um ponto de vista social, talvez até aprofundando certas contradições que ou não sentimos na leitura ou realmente não existem no conto de Guimarães Rosa. O crítico paulista Ignácio de Loyola lembra mesmo que depois da abertura provocada por Roberto Santos é possível uma leitura (com nova visão) de toda a obra do escritor mineiro. Realmente é admirável como o cineasta conseguiu extrair – ele fez quase o fenômeno da Lâmpada de Aladin, esfregou o conto e dele saiu uma excelente obra cinematográfica – de um estilo aparentemente apenas literário, um roteiro tão imagístico (plástico).

E ai entra uma consciência mais objetiva de Roberto Santos, que o cineasta Glauber Rocha – levando em conta mesmo as suas tiradas geniais – não aparenta possuir. Roberto Santos é mais conseqüente no enfoque social da problemática do homem brasileiro e se Glauber Rocha deixa entrever, ainda uma solução de fuga – o sertão vai virar mar, mas como? – ele mostra a impossibilidade – diante da própria super-estrutura cultural – da não violência.

“A Hora e a Vez de Augusto Matraga” apresenta uma linearidade nas suas imagens, elas não são insólitas como várias seqüências do filme de Glauber. Mas elas também – como acontece com “Deus e o Diabo...” – não são realistas. Um filme que seguisse uma linha, simplesmente, realista mostraria Matraga sarando e indo vingar sua honra, o surrealismo está na penetração mais funda da realidade, indo ao anterior do homem, à sua personalidade mais íntima, ao seu carácter, para indicar, então uma conduta.