O GRANDE MOMENTO (1957)
ARTES NO TEMPO
por Trigueirinho Neto
Conseqüentemente, estamos longe de confundir O Grande Momento que é um filme inspirado e que nos faltava desde os tempos de Humberto Moura, com os demais do cinema brasileiro. Pelo contrário e levando em conta inclusive seu processo de produção, libertado de vínculos industriais, dos compromissos de qualquer espécie, sua concepção bem límpida, compreensível através da poética de Roberto Santos, que realmente existe como veremos e não é intelectualismo, diante desse conjunto honroso, colocamos O Grande Momento num plano de excepção.
A diferença que existe entre essa fita bela e as outras, vantagem que a coloca na posição de vanguarda que dissemos, é a clareza, a exatidão, com que no filme está estampado o mundo do autor; para ele, os laços naturais que ligam os homens indistintamente, permanecem incorruptíveis mesmo diante de fatores negativos, desfavoráveis, fortes até.
A esta altura precisaríamos, antes de mais nada, agradecer a Roberto Santos por nos ter dado, finalmente, uma fita brasileira que se preste às considerações desse plano.
Outra grande desse filme raro é a ausência de melodrama, eis que os fatores desfavoráveis a que nos referimos são, na trama, que é simplicíssima, reduzimos a expressão mais simples a personagens de psicologia elementar, os ambientes e a movimentação naturais, levam-nos a descobrir, após poucos minutos de projeção, o íntimo daqueles homens e seu lado inesperado: estamos diante da poesia.
Roberto Santos, que demonstrou maturidade, desconheceu a desordem em que vivemos, não tratou de problemas que julgamos insolúveis, por pura inexperiência nossa, e essa atitude sua perante a vida colocou sua fita, naturalmente, num plano de atualidade indiscutível.
Esta é uma verdadeira obra de costumes, por que não se prende a minúcias facilmente superáveis, mas dá o único panorama realmente interessante, válido sempre, isto é, mantém o plano cotidiano no sentido mais puro e simples da palavra.