QUINCAS BORBA (1986)
1987 - Quincas Borba no presente

E essa marca pode ser encontrada também no último filme do diretor, “Quincas Borba”, que estréia hoje em Belo Horizonte. “O que me tocou particularmente no livro de Machado de Assis foi ter encontrado uma identidade do Rubião com os personagens dos meus outros filmes” explicou Roberto Santos, pouco antes de morrer. Assim, a história de Rubião, amigo do filósofo Quincas Borba, que se torna herdeiro de toda a sua fortuna, chegou às telas transporta para os tempos atuais, sem perder a sua essência machadiana.

Em entrevista concedida pelo Jornal “Diário do Sul”, no início do ano passado Roberto Santos explicou a razão pela qual decidiu trazer os personagens de Machado de Assis para o presente: “A ambigüidade dos seres me fascina. Se o Brasil fosse um país com perspectivas de mudanças, os personagens de Machado de Assis não existiriam. Nem o cinismo, o parasitismo, a hipocrisia e a ambigüidade. Em 100 anos de história, não mudou quase nada”. Para ele, “o ar viciado, a atmosfera dúbia, os maus pensamentos e a insegurança que o romance transmite, envolvendo esses personagens, continua a existir. Daí, aparadas algumas arestas, a possível identificação entre o passado e o presente”.

Ao adaptar o romance para o cinema o diretor – que assina também o roteiro – procurou manter-se fiel à obra de Machado de Assis. Mas existem algumas variantes, como Tônia, neta do major Siqueira do livro, que ganhou forma na adaptação. Através desta personagem, Roberto Santos procura trazer uma nova luz a “Quincas Borba”. “É uma personagem que oscila entre a realidade, da qual se alimenta, e a magia poética através da qual alimenta o sonho e a esperança dos outros, até dos homens enlouquecidos como Rubião”.