AS TRÊS MORTES DE SOLANO (1975)
Triplo salto mortal sem rede - O Estado de São Paulo - 01.05.1977
por João Cândido

Roberto Santos sempre teve atração por adaptação de textos literários (“A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, “ As Cariocas”, “ Um Homem Nu”, “ Um Anjo Mau”), mas desta vez foi mais longe, aprofundando as ambigüidades, indo até o fundo do poço de idéias e sugestões de Lygia Fagundes Telles, adquirindo uma autonomia que chega até provocar rebelião do público, que não acha no filme a interpretação da obra literária. Mas Roberto ousou mais, recusando-se a tratar o público como uma totalidade, provocando o encontro do filme com cada consciência individual. A divisão do filme em três movimentos permite níveis diferentes e leitura que interpretam e questionam cada espectador como indivíduo e não como parte da massa, obrigando-o a uma análise não no campo psicológico, mas no sociológico. Só essa maneira de enfrentar o espectador já bastaria para colocar As Três Mortes de Solano entre os filmes mais importantes do cinema brasileiro.