VOZES DO MEDO (1970)
O Medo das Vozes
O Estado do Paraná, 14 de Julho de 1974
Vozes do Medo guardou alguma coisa da concepção original e teria conservado mais não fosse a liberdade total que Roberto Santos concedeu aos diretores convidados: gente de publicidade, da TV e do Teatro, estudantes de cinema da USP ao lado de um cineasta consagrado e até um professor de filosofia. O liberalismo fez mais bem do que mal, pelo menos nessa primeira experiência. Permitiu que uma fórmula se transmudasse em forma nova com possibilidade equivalente de aprofundamento e brilho.
Esse primeiro resultado me impressionou muito. É disparatado e sinfônico, é colado, articulado e fundido. Possui a grandiloqüência da ópera e da humidade da crônica, a disciplina da coreografia e o movimento improvisado da existência, o conhecimento e a impressão, a epiderme e o mergulho, a sátira e a poesia. As epigrafes são versos de Carlos Drumonnd de Andrade, daqueles que assustam um pouco.
Os censores são assustadiços por natureza e por isso tiveram medo. Pareceu-lhes ouvir vozes e não sabendo bem donde vinham e o que diziam resolveram proibir a fita inteira. Passado uns dois anos a censura tornou-se mais atilada, mas permaneceu cismada: liberou a fita menos dois episódios. Ai entrou o INC que passava por uma de suas crises de cegueira: hesitou em dar as Vozes do medo o certificado de boa qualidade. Agora é a vez do surdez e cegueira voluntárias do nosso comércio cinematográfico. Mas Roberto Santos e vozes do medo possuem tenacidade e persuasão.