VOZES DO MEDO (1970)
Nota Urgente, 16 de Setembro de 1976

Este é um filme em forma de revista, sobre o impedimento, a negação, a impossibilidade e a apatia. Não possui história, apenas fatos colocados dentro das mais diversas formas e linguagem cinematográfica. Trata-se de uma edição especial sobre o medo. A preocupação é a liberdade. Ela não pode ser traduzida somente através do misticismo, da aventura, da pornografia, da crônica, do simbolismo e do riso. Por isso o filme tenta uma visão do conjunto. São 12 itens, realizados por 12 diretores, onde se mesclam cinema atualidade e ficção, desenho animado e fantástico, além de outras tendências e manifestações, caracterizadas pela livre expressão do pensamento. Este é um mural sobre o Brasil, na década de 70, e uma experiência de liberdade. Será relançado agora em circuito nacional, iniciando-se a 4 de outubro, no Cinema 1, de São Paulo.

Procurando fugir da redundância estafante dos filmes de duas horas de projeção, que contam uma história com começo meio e fim, Roberto Santos realiza um espetáculo com estrutura semelhante na de revista ou jornal. Com epigrafe, editorial, documentários, pensamentos, comerciais, contos fotonovelas, crônicas, desfile de modas, e histórias-em-quadrinhos. O diretor também assume o papel de editor e a obra libera-se dentro da criação coletiva.

O tema básico - a juventude paulista - é discutido em roteiros de doze realizadores diferentes, sendo Mauricio Capovilla, Gianfrancesco Guarnieri e o desenhista Rui Perotti (Sugismundo) os mais conhecidos. Essa estrutura permite ao filme revelar o mesmo tema através de diferentes caminhos. O humor, a crítica objetiva o sarcasmo, o documentário, o sonho, o protesto e a poesia se misturam delirantemente.

Mas essas representam apenas algumas referências que tentam exemplificar que o filme possui de inovador. Vozes do Medo significa duas horas de intensa criatividade impossíveis de serem explicadas em poucas palavras. Num tempo em que o cinema tradicional parece caminhar inevitavelmente para o imediatismo e para a simplificação como este filme de Roberto Santos representando o grande momento.